Na manhã desta sexta, 22/3, a vereadora Lucimara Passos (PCdoB) presidiu Sessão Especial em celebração do Dia Internacional de Combate à Discriminação Racial.
A data é comemorada oficialmente no dia 21 de março e tem origem em fato ocorrido na África do Sul durante o apartheid naquele país. “É com muita satisfação e felicidade que presido essa sessão.
O principal objetivo disso é darmos nossa parcela à construção de políticas de igualdade e reparação aos fatos históricos e que levam a uma condição social desfavorável a essa parte da população. Portanto, é uma honra para mim”, afirma Lucimara na abertura da sessão.
Foram convidados para discursar no evento Antonio Bittencourt Junior, professor da Universidade Tiradentes (Unit), Andrey Roosevelt Chagas Lemos, diretor nacional LGBT da União de Negros pela Igualdade (Unegro), e a delegada e yalorixá Meire Mansuet Alcântara Campos.
Também prestigiaram a sessão Diego Augusto de Jesus, advogado e membro da Comissão da Igualdade Racial da OAB e representantes da Associação Abaô, do PSOL, do grupo Afoxé de Preto, da Rua São João, além de representantes dos bairros Siqueira Campos, Getúlio Vargas, Bairro América e Coqueiral.
Ideologias infundadas
Para contemplar a diversidade religiosidade, a sessão foi aberta com uma saudação do Pai Oxalá, de matiz afrodescendente. Em seguida, o professor Antonio Bittencourt Junior trouxe dados históricos em relação à escravidão no Brasil e em Sergipe.
“É importante citar que 20 anos atrás em Aracaju e região tínhamos cerca de 600 centros de culto afrodescendente. Um número que me surpreende”, afirma Bittencourt. “Apesar dessa significativa presença, o negro em nossa sociedade ainda é estigmatizado, taxado como ser inferior, abaixo das escalas, evidenciado como incapaz ou marginal. Esse é um processo cultural e não natural”, conclui Bittencourt.
A ideia predominante em todos os discursos foi a de que ainda são necessárias políticas públicas contemporâneas para combater atitudes históricas. A Yalorixá Sônia Oliveira, representante da Sociedade Omolaiyê, revela que a cidade de Aracaju sempre esteve à frente na instituição de leis para o combate da discriminação racial.
Além disso, defendeu com veemência a necessidade de falar sobre o tema nas escolas e demais lugares públicos. “Estou aqui hoje, porque o racismo dói. Tem gente que diz que saio andando por aí falando disso e que isso não vai me trazer nenhum retorno material, mas eu preciso falar porque isso dói”, declara Sônia Oliveira.
Ao agradecer aos vereadores presentes (Iran Barbosa, Max Prejuíxo e Lucas Aribé), a yalorixá questionou a ausência dos demais. “Não posso deixar de fazer a crítica. Poderíamos ter uma maior representatividade dos vereadores aqui. Pergunto, Lucimara: será que essa discussão não é necessária?”, provoca a yalorixá Sônia Oliveira.
Já a delegada Meire Mansuet Alcântara Campos sugeriu uma reflexão. “Por que ainda hoje existem tantos casos de racismo?”, questiona a delegada. Nesse sentido, ela também discursou sobre o significado da palavra racismo. “Em seu significado, existe a crença de que há relação entre as características físicas, como cor da pele, e traços de caráter”, conclui.
Ao final da sessão, Andrey Roosevelt Chagas Lemos, diretor nacional LGBT da
União de Negros pela Igualdade (Unegro), agradeceu à presença de todos no Plenário e ressaltou a importância da luta para a saída do deputado federal Marco Feliciano da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara de Deputados. Além disso, Roosevelt prestou homenagem a Rejane Maria Pureza do Rosário, também militante pela igualdade de direitos.
Fato por trás da data
No dia 21 de março se comemora o Dia Internacional da Discriminação Racial para marcar para gerações futuras um fato ocorrido há mais de 40 anos na África do Sul. Neste mesmo dia no ano de 1960, na cidade de Joanesburgo, capital da África do Sul, 20 mil negros protestavam contra a lei do passe, que os obrigava a portar cartões de identificação, especificando os locais por onde eles podiam circular.
No bairro de Shaperville, os manifestantes se depararam com tropas do exército. Mesmo sendo uma manifestação pacífica, o exército atirou sobre a multidão, matando 69 pessoas e ferindo outras 186. Esta ação ficou conhecida como o Massacre de Shaperville. Em memória à tragédia, a ONU – Organização das Nações Unidas – instituiu 21 de março como o Dia Internacional de Luta pela Eliminação da Discriminação Racial.
Fotos: Heribaldo Martins